Superando o medo de se assumir para sua família

Diversidade e InclusãoArtigo31 de agosto de 2021

Na Ásia, onde os valores tradicionais permanecem sólidos, como uma pessoa gay se abre com sua família e amigos? Uma mulher irá compartilhar sua experiência e as lições que ela espera que ajudem os outros.

Compartilhe isto

Por Michael Bradford


Na Ásia, onde os valores tradicionais permanecem sólidos, como uma pessoa gay se abre com sua família e amigos? Uma mulher irá compartilhar sua experiência e as lições que ela espera que ajudem os outros.

Como outras pessoas que se depararam com a decisão de revelar publicamente sua orientação sexual, a preocupação de Hsuning Chang era de magoar aqueles que mais a amam.

Como uma mulher taiwanesa trabalhando na França, ela sentiu a influência de ambas as culturas - os valores familiares tradicionais de sua pátria e a sociedade moderna e aberta que diz que não há problema em ser quem você realmente é. Seus amigos em Taiwan tinham, em sua maioria, aceitado facilmente sua decisão alguns anos antes. Mas o que a preocupava era a reação de sua família.

Não foi fácil para ela, e ela sabe disso, mas ela pode comprovar que de fato o amor de família fez valer a pena.

“Minha irmã mais velha, que tinha 20 anos, disse que estava tudo bem”, Hsuning se lembra da primeira conversa com sua família sobre sua sexualidade. “E daí, sem me contar o que ia fazer, minha irmã contou à minha mãe”.

“Eu estava morando com minha irmã em Paris. Minha mãe estava em Taiwan, e nós nos falávamos com frequência”, contou Hsuning.

“Um dia, enquanto estávamos conversando, ela me perguntou se eu era gay.

Inicialmente, disse que não, mas ela perguntou novamente, de um modo bem claro. Então, finalmente, disse que era. Ela me perguntou por que, mas não havia nenhuma razão; ser gay é natural”.

“Foi um momento de raiva, tristeza e sentimentos negativos”, diz ela. Sua mãe respondeu com um e-mail, explicando o que achava.

“Respondi expondo meus sentimentos sinceros, incluindo artigos on-line e histórias sobre pessoas como eu”. Eu queria convencer minha mãe de que não era algo muito importante”.

Hsuning tomou a difícil decisão de parar de se comunicar com sua mãe em vez de continuar tentando convencê-la de que ser gay era algo bom. Depois de algumas semanas, “minha mãe entrou em contato comigo e disse: ‘Pensei muito tempo sobre isso e finalmente percebi, não importa como, eu te amo, você é minha filha e eu estou feliz desde que você esteja feliz’”.


Combatendo o medo

O que se seguiu foi uma espécie de revelação para Hsuning – que entrou na Zurich como cientista de dados em Hong Kong no final do ano passado – ajudar as pessoas que estão relutantes em se assumir sobre sua sexualidade.

“Em Hong Kong, as pessoas têm medo de se assumir e a razão principal é a família.” É difícil para os asiáticos. Minha mãe ficou muito triste no início”, diz Hsuning. Mas, ela enfatizou, a família, muitas vezes, se torna a mais forte fonte de apoio de uma pessoa gay. São eles os que mais te amam e apoiam”.

A parceira de Hsuning ainda não se assumiu à sua família, mas não é por medo que de eles a rejeitem. “Estamos apaixonadas e se decidirmos nos casar, ela irá dizer à sua família”. Ela nunca se preocupou sobre isso. Tenho muita sorte, pois já tive outros relacionamentos que terminaram porque minha companheira estava muito preocupada em se assumir para a família”.

É por conta de sua experiência que Hsuning está compartilhando o que aprendeu sobre os conceitos errôneos e a ansiedade – geralmente fora de contexto – que incomodam aqueles que estão lutando para se assumir. Especialmente quando se trata de família.


Assumindo

Muitos que se assumem ficam aliviados ao descobrir que se preocupavam demais com a reação que iriam receber, diz Hsuning. Na verdade, “a maioria dos pais já sabe”, acrescenta ela, ou suspeita fortemente que seu filho ou filha tem atração pelo mesmo sexo.

Outra concepção errônea que Hsuning sustentou e ela diz ser comum entre aqueles que estão reticentes em se assumir é sobre o que as pessoas vão falar sobre eles. Pelo contrário, conta “as pessoas não estão nem aí... assim que você se assume, você descobrirá que está tudo bem; e que não deve esconder quem você é”.

Ela se uniu à Pride@Zurich, uma rede global de funcionários LGBTQIA+ criada na Zurich que oferece um ambiente seguro para discutir tópicos LGBTQIA+ e se conectar com outros membros. Hsuning sentiu que ela poderia fazer a diferença fazendo parte do grupo e talvez ajudar as pessoas a experimentarem o mesmo sentimento de liberdade que ela sentiu depois de se assumir.

“Na vida, muitas vezes somos sequestrados pelo mundo e fazemos escolhas que nos sentimos compelidos a fazer”, diz ela. “Na Ásia, percebo que as pessoas são gays ou lésbicas, mas que têm medo de se assumir. Quero estar lá, no Pride, para ajudar essas pessoas”.

Ela é uma das três membras do Pride Hong Kong que se mantém ocupada com reuniões quinzenais e atividades mensais que incluem uma sessão remota com a alta gerência que aborda questões em relação à discriminação LGBTQIA+. O grupo realizou pesquisas sobre os direitos LGBTQIA+ e a situação das leis que afetam os gays nos países asiáticos, trabalho que tem levado a alguns resultados reveladores.

Em relação ao Japão, por exemplo, Hsuning conta que as impressões que todos temos de que o país não apoia a comunidade LGBT+ não são completamente reais. “As atitudes são muito boas, as pessoas estão engajadas”, diz Hsuning, referindo-se a pesquisas que mostram que 60% dos japoneses têm uma visão favorável do casamento entre pessoas do mesmo sexo.


Em casa, em Hong Kong

Hsuning considera ter sorte de estar em Hong Kong, que ela descreve como um lugar onde “se você se assumir, as pessoas realmente não estão nem aí”. Ela destaca que Hong Kong será o primeiro anfitrião asiático dos Gays Games em 2022, indicando que o estilo de vida gay obteve aceitação lá.

Embora reconhecendo que a cultura de Hong Kong é, em muitos aspectos, semelhante à da China, onde as pessoas acham “difícil se expressar”, Hsuning diz que se sente muito à vontade na cidade, onde ela pode viver abertamente como gay. É um lugar, diz ela, “onde eu não preciso me esconder”.