Adaptação para construir resiliência frente ao clima extremo

Riscos e resiliênciaArtigo21 de dezembro de 2022

Inundações, secas e incêndios florestais decorrentes do aquecimento global estão onerando as sociedades e a economia mundial. Dados de código aberto, modelos de risco climático e ideias inovadoras podem ajudar a sociedade a se adaptar.

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À medida que cresce a necessidade de mobilização de Recursos para combater a mudança climática, um fato inevitável vem à tona: mesmo se o aquecimento global puder ser limitado para apenas 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais, empresas, organizações e governos em todos os lugares deverão desenvolver estratégias para proteger as comunidades e criar resiliência o suficiente para resistir aos eventos climáticos extremos.

Com incêndios florestais próximos à cidade chinesa de Chongqing, ondas de calor em toda a Europa, inundações no Paquistão e tornados nos EUA, a adaptação aos eventos decorrentes do clima extremo será uma questão prioritária na Reunião do clima da COP 27 em Sharm El-Sheikh, em novembro.

Mas o que significa essa adaptação na prática? E o que as seguradoras podem fazer para ajudar empresas e organizações a reduzir risco e criar resiliência?

No ano anterior, os eventos climáticos extremos custaram US$ 329 bilhões à economia global. Enquanto isso, ao longo de 15 anos até o ano de 2015, a população global sujeita a eventos de inundação aumentou de 20 a 24%.

eventos climaticos extremos

“A mudança climática já chegou”, afirma Michael Szönyi, Líder do Programa Flood Resilience do Grupo Zurich. “Seus efeitos e consequências deixaram de ser algo remoto, mas sim uma realidade, e isso está acontecendo agora.”

Para Szönyi, a adaptação climática significa avaliar toda a cadeia de valor das empresas – o fluxo de materiais, os serviços prestados pelos funcionários e sua mão de obra – para identificar as maiores vulnerabilidades. Isso também significa olhar além e basear nossas decisões atuais frente às prováveis mudanças climáticas, ao invés de nos basear em estimativas passadas.

Um exemplo disso é o novo projeto para prédios. Szönyi explica que um investimento equivalente a apenas 1% do custo do projeto pode preparar um escritório ou uma instalação de produção contra futuros eventos climáticos. “É importante que isso ocorra logo na fase de concepção do projeto, pois os prédios que estamos desenvolvendo hoje ainda estarão de pé em 2050”, explica. “Caso tenha que iniciar com uma reforma, essa já é uma oportunidade perdida.”

Ruben Torres Rico, Líder de EMEA em Serviços de Resiliência às Mudanças Climáticas da Zurich Resilience Solutions, argumenta que o setor de seguros tem um papel decisivo a desempenhar na adaptação climática, promovendo a proteção contra riscos futuros relacionados ao clima e quantificando seu impacto.

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Uma oportunidade para isso são os dados de riscos climáticos de código aberto. Informações sobre riscos físicos – desde sua intensidade e frequência, exposição local e vulnerabilidade de ativos específicos – podem contribuir para uma análise mais precisa do risco, para que os ativos possam manter-se cobertos. No entanto, muitos desses dados atualmente não estão disponíveis, não estão padronizados ou ambos.

De acordo com Torres Rico, uma colaboração mais estreita com os formuladores de políticas para um banco de dados de código aberto de informações padronizadas e disponíveis ao público (respeitando os respectivos regulamentos) poderia significar um enorme potencial. “Mais dados disponíveis significam ferramentas mais precisas”, conclui. “Isso também promove maior conscientização sobre a necessidade da adaptação climática.”

Uma segunda oportunidade é desenvolver melhores modelos de risco climático, o que pode ajudar a formar uma imagem mais precisa de futuros padrões climáticos, bem como dos riscos resultantes às empresas, organizações e comunidades. “Precisamos realmente antecipar o que está por vir, e as estatísticas passadas já não nos servem”, completa Szönyi. “Queremos compreender as condições de risco em 2050, daí a importância dos modelos climáticos.”

Dados e modelagem de risco mais precisos também poderiam ajudar os formuladores de políticas sobre outros riscos, exposições e vulnerabilidades em seus países, fornecendo-lhes uma visão mais ampla sobre questões de adaptação, como prevenção, redução de riscos e preparação.

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O setor de seguros pode promover maior conscientização e compreensão do risco de maneira econômica, trazendo sua experiência em modelagem de riscos e orientando sobre o uso de padrões de dados abertos. Por exemplo, o Fórum de Desenvolvimento de Seguros (IDF), em parceria com o V20 Group of Ministers of Finance, por meio da Global Risk Modeling Alliance, permitiu acesso a dados abertos e plataformas de modelagem de risco aos países membros, bem como experiência em finanças de risco para permitir o co- desenvolvimento de estratégias de gestão de riscos e planos de adaptação.

Uma terceira oportunidade está na inovação. A digitalização, incluindo Big Data e algoritmos de aprendizado de máquina, tem o potencial de aumentar o impacto do financiamento de risco e do seguro na resiliência.

Em abril, como parte dos esforços contínuos para estimular a inovação por meio da cooperação, a Zurich selecionou 12 startups com as quais trabalhará para desenvolver ideias em quatro categorias: seguros reinventados; prevenção e mitigação; simplicidade; sustentabilidade. As startups foram selecionadas entre quase 2.600 empresas que participaram do Zurich Innovation Championship da seguradora, o qual está em seu terceiro ano.

Por meio de uma fase de aceleração em três meses, a ideia é trabalhar com as empresas selecionadas, oferecendo apoio financeiro e não financeiro, até atingir um ponto de implementação para então difundir suas soluções em escala global.

Torres Rico afirma que, em última análise, uma adaptação climática bem-sucedida envolve tanto a redução do nível de risco por meio da prevenção quanto, ao mesmo tempo, sua resiliência, limitando o impacto e garantindo uma rápida recuperação.

“Trata-se de conceitos nucleares daquilo que pretendemos fazer como seguradoras, e dados mais precisos, modelagem e inovação são as oportunidades que se apresentam”, conclui. “Mas temos que agir agora porque a mudança climática não vai parar amanhã, mesmo que todos implementem com sucesso as medidas de mitigação necessárias”.