Restaurando a outrora poderosa Mata Atlântica

Riscos e resiliênciaArtigo18 de maio de 2023

A Mata Atlântica do Brasil foi devastada pelo desmatamento. Menos de 15% da floresta original ainda existe. No entanto, ela continua sendo uma das áreas naturais mais ricas do planeta, competindo com a Floresta Amazônica. A Mata Atlântica precisa ser salva. E duas pessoas determinadas têm um plano

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Um provérbio brasileiro diz que “amor com amor se paga”. Quando se trata de árvores, todos se beneficiam. Elas capturam o dióxido de carbono (CO2) que, de outra forma, contribui para a mudança climática e abrigam a maior parte da biodiversidade terrestre da Terra, que é vital para a vida em nosso planeta.

E como retribuímos às árvores? Muitas vezes com o oposto do amor: nossas florestas, que cobrem quase um terço da área terrestre do planeta, estão desaparecendo devido ao desmatamento, substituídas por plantações e desenvolvimento urbano. No entanto, a restauração dessas florestas pode reparar a biodiversidade danificada da natureza, ajudando o planeta e a nós também.

Esse é o pensamento por trás de um ambicioso projeto de restauração no Brasil. Juntamente com o Instituto Terra, uma organização sem fins lucrativos, o Grupo Zurich está patrocinando a plantação de 1 milhão de árvores nativas para restaurar um habitat de biodiversidade em 700 hectares de terra no estado de Minas Gerais. Isso está nos permitindo retribuir – com um pouco de amor – as árvores que fazem muito bem para todos.

O projeto Zurich Forest no Brasil levará oito anos para ser concluído. Ele faz parte de um plano para reflorestar uma pequena porção do que costumava ser um dos maiores locais arborizados da Terra: a poderosa Mata Atlântica, que antigamente se estendia por 3.000 quilômetros ao longo da maior parte da costa do Brasil.

Quando os europeus chegaram, há cerca de 500 anos, a Mata Atlântica cobria cerca de 120 milhões de hectares – aproximadamente duas vezes o tamanho do Texas. Mas o desmatamento logo cobrou seu preço.

As árvores de pau-brasil da floresta foram as primeiras a serem destruídas. Elas eram apreciadas para a fabricação de um corante vermelho. O desmatamento continuou à medida que as plantações de café e cana-de-açúcar foram estabelecidas e culturas como a soja foram plantadas. O gado pastava em pastos criados pela destruição por queimadas. A floresta também sofreu o impacto do crescimento populacional e do desenvolvimento urbano do Brasil, com as megacidades do Rio de Janeiro e de São Paulo localizadas no que costumava ser partes da Mata Atlântica.

A gigante floresta tornou-se um fantasma. Segundo algumas estimativas, restam apenas de 11% a 16% da Mata Atlântica original. Mas apesar de seu estado reduzido – ela é apenas uma pequena fração do tamanho da floresta amazônica – a Mata Atlântica ainda abriga uma rica gama de diversidade biológica semelhante à da Amazônia. A Mata Atlântica contém cerca de 20.000 espécies de plantas, incluindo o pau-brasil que dá nome ao país; são mais espécies de plantas do que toda a América do Norte (17.000) ou a Europa (12.500). É por isso que a Mata Atlântica é considerada uma prioridade global de conservação.

O projeto Zurich Forest no Brasil é apenas uma parte de um plano ambicioso iniciado por duas pessoas determinadas. O renomado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado e sua esposa Lélia, arquiteta de formação, não planejavam inicialmente plantar uma floresta.

Fotógrafo profissional formado em economia, Sebastião pegou uma câmera quase por acidente. Depois que o jovem casal se mudou do Brasil para Paris no final da década de 1960, foi Lélia quem comprou a primeira câmera. Mas foi Sebastião quem ficou viciado. O ex-economista começou a tirar fotos e a vendê-las para jornais. Através de suas lentes, talvez seja possível imaginar o mundo como um economista apaixonado o veria. Caracteristicamente em preto e branco, suas fotos apresentam paisagens e pessoas como sistemas inteiros. Elas foram descritas como bíblicas em escala. Elas podem até ser consideradas precursoras do projeto florestal, que na verdade, de acordo com Sebastião Salgado, tem tudo a ver com “ecossistemas”.

Surgimento dos fanáticos pela floresta

O sonho de uma floresta renovada surgiu de um sentimento de perda depois que o casal herdou a fazenda dos pais de Sebastião no Brasil. “Meu pai tinha uma grande fazenda. Eu cresci em um paraíso”, disse ele à gerência da Zurich em 2019, em uma reunião em que foi apresentado aos líderes da empresa. Mas quando ele e a Lélia voltaram na década de 1990, as colinas que cercavam a Fazenda Bulcão estavam estéreis, parecendo mais um círculo do inferno do que um paraíso. A terra da fazenda, situada principalmente no vale do rio Doce, foi declarada “morta” por um especialista em solo. Mas Sebastião, o fotojornalista, havia voltado para casa enojado com o que tinha visto em lugares de desastre humano, como Ruanda e os Bálcãs. Ele precisava de renovação. Lélia sugeriu que, ao reflorestar a floresta, Salgado poderia se curar. Assim começou a carreira de Sebastião e Lélia – os aficionados por florestas.

O projeto era ambicioso. Para concretizar sua visão e lidar com os enormes desafios, o casal fundou o Instituto Terra em 1998. Parte de tudo está no financiamento. Sebastião chegou a leiloar uma câmera de edição especial que lhe foi dada por uma empresa de câmeras para arrecadar dinheiro para plantar árvores. Nesse meio tempo, o projeto cresceu graças ao apoio da comunidade, de fontes públicas e de doações privadas. Em pé no palco diante da gerência do Zurich, Salgado compartilhou uma foto do dossel verde que hoje cobre as encostas antes áridas da antiga fazenda. Nesse momento, muitos gerentes na plateia sorriram. E alguns aplaudiram.

Carsten Schildknecht, CEO da Zurich Alemanha, era um dos executivos da Zurich na plateia naquele dia. “Fiquei muito emocionado e super convencido”, lembra ele. Schildknecht ficou tão impressionado que decidiu ali mesmo que a Zurich Alemanha, com seus 4.500 funcionários, seria líder em uma cooperação com o Instituto Terra. “Se abordarmos isso com otimismo, se acreditarmos que mesmo as pequenas ações podem fazer a diferença, então, passo a passo, estaremos de fato criando juntos esse futuro mais brilhante”, diz ele.

“Estou muito orgulhoso de apoiar o Instituto Terra e seu projeto”, acrescenta Edson Franco, CEO da Zurich Brasil, que também ficou encantado com a apresentação de Salgado. “Ele se alinha ao nosso propósito e esse projeto único ajudará a recuperar e proteger a Mata Atlântica, notavelmente rica em biodiversidade e espécies endêmicas, muitas ameaçadas de extinção”.

Até o momento, o Instituto Terra já plantou 2,5 milhões de árvores. O projeto Zurich Forest plantará mais um milhão. Com a maior parte da terra agora designada como uma das Reservas Particulares do Patrimônio Natural do Brasil, os animais nativos também estão retornando e, junto com eles, um ambiente verdadeiramente biodiverso. A área abriga 172 espécies diferentes de pássaros, das quais seis estão ameaçadas de extinção, 15 espécies de anfíbios, 16 espécies de répteis e 33 espécies de mamíferos, com sete em risco de extinção. Isso inclui as onças-pintadas, que estavam em risco de extinção devido à destruição de seu habitat.

Uma árvore para cada funcionário da Zurich

No projeto Zurich Forest do Brasil, será plantada uma árvore para cada um dos 55.000 funcionários da Zurich, sendo o restante dedicado a clientes, partes interessadas ou eventos especiais. Assim, as florestas podem ser histórias sobre tristeza e perda, mas também, se forem regeneradas, sobre redenção e esperança.

Salgado sabe como é difícil trazer a natureza de volta. “Como criar um filho”, é como ele descreve. Isso requer conhecimento e tempo. As primeiras árvores são “as pioneiras”, a primeira geração, que possibilita a segunda geração e, se tudo der certo, uma terceira geração de árvores.

Se tudo correr bem, as árvores que a Zurich está ajudando a plantar poderão agora durar 500 ou até 1.000 anos. Os seres humanos também precisam pensar em longo prazo, especialmente quando se trata do futuro do planeta. Outro provérbio brasileiro resume bem a questão: “A quem sabe esperar ensejo, tudo vem a seu tempo e desejo”. Nesse caso, a longa espera está terminando. As árvores estão voltando.

Faces da floresta

Moisés Marcelino é gerente do departamento ambiental e de operações gerais do Instituto Terra e descende de uma longa linhagem de agricultores. “Desde que me lembro, minha família trata a terra com respeito, pois é dela que basicamente obtemos tudo. Tratávamos bem a terra, para que ela fosse gentil conosco na hora de colher nossas safras”, diz ele.

“Gosto muito de apicultura. Acho que há muito a ser aprendido com as abelhas, na verdade. As abelhas têm uma vida útil tão curta, cerca de 45 dias, e mesmo assim, durante esse tempo, elas fazem muita coisa. Até mesmo na forma como suas vidas terminam... elas terminam seu ciclo de vida fazendo coisas que ajudarão outras abelhas depois que elas se forem. Elas aprendem a cuidar uma das outras de uma forma que eu tento fazer em minha vida diariamente”.

“A natureza é... dinâmica. É... resiliente. E ela nos ensina muito. É por isso que eu gosto tanto dela, ela fala comigo. Ela tem muito a nos dizer... ela nos conta sua história; ela nos diz o que precisa... se ao menos a ouvíssemos. A natureza e a humanidade se completam, é um ciclo”.