Como as mudanças climáticas afetarão os negócios – e o que pode ser feito

Riscos e resiliênciaArtigo11 de julho de 2023

Os impactos das mudanças climáticas são sentidos em todos os setores. Mas, com quais riscos os líderes empresariais devem se preocupar e como podem se preparar para um futuro mais ecológico?

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A crise climática está mudando a maneira como vivemos e trabalhamos.

Os efeitos já estão sendo sentidos em muitas empresas na maioria dos segmentos do mercado. Mas, as mudanças climáticas e a transição para um futuro com carbono net zero podem dar impulso a novas indústrias e novas oportunidades de crescimento para os negócios, gerando novos empregos e até revitalizando as economias.

Por outro lado, existe um ponto negativo. Quase todos os setores também estão ameaçados pelos impactos das mudanças climáticas, seja direta ou indiretamente. Para as empresas que estão pensando sobre como tais mudanças podem afetar seus negócios, deve-se considerar os riscos que se enquadram em três categorias: físicos, transitórios e de responsabilidade.

Riscos físicos

Os riscos físicos da mudança climática são as ameaças imediatas que vêm do ambiente físico. Isso inclui inundações, furacões, secas, incêndios florestais e outros riscos naturais que são agravados pelas mudanças climáticas e podem causar danos às pessoas, bens e infraestruturas críticas. Por exemplo, estima-se que 1,8 bilhão de pessoas, ou 23% da população global, estejam diretamente expostas a inundações acima de 0,15 m em um evento de inundação de 1 em 100 anos. Além disso, 700 milhões de pessoas correm o risco de serem ficarem desabrigadas devido às secas até 2030.

Os principais eventos climáticos já estão causando impacto nos negócios. Eventos climáticos custaram à economia global US$ 313 bilhões em 2022, e apenas US$ 132 bilhões dessas perdas eram cobertas por seguros.

O setor agrícola está particularmente exposto a riscos climáticos físicos. As inundações e as secas podem representar um risco para as plantações e o gado, assim como o frio e o calor extremos. O Escritório Australiano de Economia e Ciências Agrícolas e de Recursos relatou que mais de 1 bilhão de dólares australianos foram perdidos pelos agricultores nos 20 anos até 2019 em decorrência da mudança climática, principalmente devido à seca.

A indústria do lazer é outro setor que corre risco físico imediato com as mudanças climáticas. As estações de esqui estão tendo temporadas mais curtas, já que o aumento das temperaturas reduz a nevada: quase todos os resorts de esqui dos Estados Unidos podem ter uma temporada 50% mais curta até 2050, e até 80% até 2090. Enquanto os Estados Unidos, a Turquia e a Austrália estão perdendo receita do turismo, uma vez que os incêndios florestais aumentam o perigo nas grandes regiões populares de hiking.

Riscos transitórios

O risco transitório vem dos custos comerciais potencialmente mais altos em virtude de novas políticas, leis e outros regulamentos definidos para enfrentar as mudanças climáticas. Esses riscos também podem surgir de mudanças em tecnologias e tendências de consumo, o que também pode levar a riscos de reputação conforme a sociedade muda sua visão sobre práticas comerciais éticas. E à medida que os setores se afastam das atividades que contribuem para as mudanças climáticas, mais suscetíveis ficam aos ativos irrecuperáveis – um terreno, imóvel ou equipamento cujo valor se deteriorou.

A indústria de energia é um setor particularmente aberto ao risco transitório. Com o estímulo das fontes de energia mais sustentáveis (e segurança energética), os governos passam a depender cada vez mais de fontes de energia renováveis e exigem emissões de carbono net zero dos produtores.

O setor de mineração também está exposto aos riscos transitórios. A mineração de metais preciosos, por exemplo, pode estar em risco financeiro com políticas que introduzem a precificação do carbono. Os impactos negativos da mineração no clima e no meio ambiente estão se transformando em um problema de reputação cada vez maior para as empresas de mineração, o que desperta preocupação nos investidores quanto aos negócios que poderiam causar danos à reputação por associação.

Riscos de responsabilidade

Os riscos de responsabilidade surgem de uma falha em mitigar, adaptar-se, divulgar ou cumprir as mudanças nas expectativas legais e regulatórias. Os litígios climáticos estão aumentando em todo o mundo, refletindo os avanços na ciência da atribuição, a evolução das disputas judiciais e a mudança do sentimento público. Também estão sendo impulsionados por um foco maior de reguladores e investidores que desejam garantir que as empresas façam as divulgações necessárias e estejam em conformidade com um cenário regulatório em constante evolução.

As empresas que poluem estão obviamente expostas a possíveis litígios, assim como as empresas que deixam de considerar as mudanças climáticas futuras em seus produtos e serviços. Por exemplo, engenheiros estruturais ou incorporadoras que deixam de considerar o aumento da intensidade da chuva no projeto de sistemas de drenagem.

Como as empresas devem responder aos riscos climáticos?

“Toda empresa é afetada pelos riscos físicos, transitórios e de responsabilidade”, diz Amar Rahman, Head Global de Resiliência Climática da Zurich Resilience Solutions, do Grupo Zurich. “Algumas indústrias ficarão mais preocupadas com os requisitos regulamentares, enquanto outras podem estar mais preocupadas com a perda de ativos devido aos danos físicos. Mas as empresas devem considerar todos esses riscos, tanto de curto quanto de longo prazo”.

Isso exigirá uma mudança significativa na forma como as empresas gerenciam sua abordagem de resiliência e adaptação climática. Mitigar tudo que envolve esse cenário deverá fazer parte da estratégia de negócios. Como os impactos das mudanças climáticas e os riscos que eles representam estão em constante mudança, a análise de riscos deve ser realizada regularmente.

Essas etapas podem fazer com que empresas invistam em novas tecnologias, migrem para novas áreas da indústria ou adaptem seus modelos de negócios. Por exemplo, a estação de esqui Arosa, na Suíça, está desenvolvendo um modelo de turismo de verão para proteger seu negócio da redução da temporada de neve no inverno. As estações de esqui também estão adotando a tecnologia, como a semeadura de nuvens, para fazer com que as nuvens produzam neve, e até mesmo máquinas de neve movidas a vento que funcionam em temperaturas acima de zero.

As empresas não devem agir sozinhas

Elas devem ter como objetivo desenvolver coletivamente soluções de risco climático, aproveitando a expertise e considerando as necessidades de outras partes interessadas, incluindo pesquisas, reguladores, órgãos governamentais e comunidades.

As seguradoras também podem desempenhar um papel fundamental. Elas naturalmente desejam proteger seus clientes e podem compartilhar seus conhecimentos e expertise em gerenciamento de risco. Um grupo de 22 seguradoras, incluindo a Zurich, reuniram-se com a ONU para produzir um relatório descrevendo como a indústria pode ajudar a analisar e mitigar os riscos climáticos. O relatório recomenda uma abordagem mais integrada que analisa os riscos físicos, transitórios e de responsabilidade das mudanças climáticas e que poderia ser adotada por seguradoras em todos os setores, a fim de que elas preferivelmente se protejam e protejam as empresas que seguram.

Quais oportunidades de negócios surgem com as mudanças climáticas?

Tudo isso traz enormes desafios, mas alguns setores, como os fornecedores de energia limpa, podem aceitar as oportunidades. De acordo com a Agência Internacional de Energia, a energia renovável deve se tornar a maior fonte de geração de eletricidade no mundo no início de 2025, superando o carvão. Espera-se que sua participação no mix energético chegue a 38% em 2027, bem acima dos 28% em 2021.

A inovação no transporte também colherá frutos. A União Europeia e o Reino Unido planejam banir o comércio de veículos a combustão nas próximas duas décadas, o que deve trazer lucro aos fabricantes de veículos elétricos. A Tesla talvez seja a mais conhecida, mas todos os principais fabricantes de automóveis estão lutando para criar carros elétricos mais potentes e confiáveis. Desde a captura de carbono até a reciclagem, as novas tecnologias que podem nos ajudar a adaptar a forma como criamos e usamos os produtos terão alta demanda. Os negócios que apresentarem novas ideias para atenuar os impactos prejudiciais dos processos industriais existentes prosperarão.

Gestão de riscos das mudanças climáticas

Os efeitos das mudanças climáticas estão sendo sentidos nas empresas em todo o mundo. Tomar medidas para mitigar o impacto no clima é fundamental, mas também faz sentido no aspecto financeiro. Ao agirem neste momento, as empresas podem reduzir os riscos decorrentes das mudanças climáticas e até mesmo aproveitar as novas oportunidades apresentadas por um futuro mais ecológico. Como declarou Rahman, “As empresas que identificam os riscos climáticos e reagem terão mais chances não apenas de sobreviver, mas também de prosperar em um novo mundo net zero”.